Marian Rojas-Estapé, psiquiatra e escritora, começa uma entrevista dizendo que “estamos num momento da história que existe uma obsessão em sermos felizes. Parece que qualquer sensação de prazer é um atalho para a felicidade. No entanto, a felicidade não é um conjunto de sensações, mas sim, o sentido que cada um dá à sua vida. Mas como ser feliz numa sociedade que perdeu o sentido da vida? Uma sociedade que substituiu o sentido da vida por sensações prazerosas? (Sensações que até são positivas mas que se tornam auto-destrutivas quando substituem o verdadeiro valor da vida…)”.
Viktor Frankl revela no seu livro “O Homem em busca de um sentido”, que percebemos o sentido da vida quando, a partir da nossa consciência, identificamos a conduta correta para uma dada situação e assumimos a responsabilidade de levá-la a cabo. Ele criou a Logoterapia que busca trazer autoconhecimento e clareza para que seja possível viver uma vida com propósito.
Inevitavelmente penso na sofrologia caycediana. Esta foi criada pelo Professor Caycedo, que foi contemporâneo de Viktor Frankl e que compreendeu a importância dos valores na existência plena do ser humano. Tão interessante perceber que Viktor Frankl, psicólogo, e Alfonso Caycedo, médico psiquiatra, foram mais além e criaram os seus próprios métodos, bem estruturados. Ambos viram o ser humano como um ser bio-psico-social.
Caycedo falava já na “doença de massas”, em 1977, no Recife (Brasil), quando apresentou a “Declaração dos Valores do Homem” (uma declaração vanguardista e bastante atual). Por “valores do Homem”, a sofrologia entende as qualidades específicas que caracterizam o ser humano e o definem como dotado de uma consciência indivisível, original e transcendente. Por outras palavras, são os valores que tornam cada pessoa um ser único.
“Esta doença de massas é consequência da perda do nosso rumo e do sentido da nossa existência.”, dizia Caycedo. Criou a sofrologia para ajudar a salvar o Homem face à crise da civilização contemporânea, uma crise que corrompe os valores existenciais que são essenciais ao equilíbrio individual e coletivo.
É preciso sublinhar que o primeiro valor do ser humano é ele mesmo. Mas a atenção está cada vez mais direcionada para o mundo exterior, para a competição, para o julgamento, criando frustração, ansiedade, insatisfação, depressão, solidão. Falta mergulhar no mundo interior, tão rico e tão belo, cheio de valores, de vida, de plenitude.
É aqui que a sofrologia mostra a sua força: ela permite desenvolver a introspecção senso-perceptiva, que leva ao conhecimento do nosso próprio corpo, alargando a nossa mente, fomentando as emoções positivas e a conquista dos nossos valores fundamentais que nos são intrínsecos.
Logo que vivenciamos dentro de nós mesmos estes valores ao nível da nossa biologia, sentimos uma energia positiva que acaba por ser uma influência sobre todo o nosso ser, ao nível da saúde física e mental, e que se torna a bússola que orienta as nossas decisões, transformando toda a nossa vida numa existência cheia de felicidade. A sofrologia é seguramente um caminho para uma vida mais leve, mais lúcida e cheia de sentido.